Foi mais importante do que à primeira vista pareceu. A
entrada de Léo Fortes e Robertinha no Baila Floripa 2013 marcou uma data de
braços torcidos se convertendo em abraços acolhedores. As portas não podiam
resistir por muito tempo ao charme juvenil do novo malandro, sem chapéu,
mas de boné e tênis, sambando para baixo, dialogando com o chão, fiel a uma
tendência subversiva que reforma toda a estrutura da gafieira a partir de uma
leitura completamente nova do corpo. Com o jeito moleque, o molejo sincopado na
atitude, a alma carioca volta a falar nessa versão corporal da dança. Esta,
assim se torna menos europeia, mais tropical e regional, criativa e prolífera,
cada vez menos centrada na base, e se expandindo com uma energia sacolejante e
quebrada, misturando um aspecto tribal ao compasso trançado dos trapaceiros de
profissão da Lapa antiga. Os traços africanos enfim se reúnem ao charme do
malandro.
O casal não
é pioneiro, nem órfão. É filho de um contexto cultural maduro. No Rio de
Janeiro esse estilo de sambar já é o mais procurado pelos alunos interessados
em samba de salão. Nas academias consagradas, os templos, há uma multidão de
jovens bolsistas morenos de tênis, regatas e calças jeans, clones de Robertinha
e Léo, partilhando a mesma composição genética de alegria e linguajar do
gueto. Agora, com jeitinho, eles vão conquistando o país, precedidos pelos dois
meninos, precursores, que vão abrindo passagem graças ao seu estilo mais
adaptado ao ideal retórico de “limpeza” instituído
por tradições respeitadas. São como pintores de vanguarda que
precisam convencer os fundadores antes de revolucionarem a arte. Mas uma dança
só é limpa na proporção em que é fiel à perspectiva que ela dá à leitura da
música. O jovem casal, em cada gesto, mesmo
o mais detalhado movimento, flui como um sopro de personalidade autêntico, expressão
pura e limpa da cultura carioca que lhes deu berço, distribuindo respostas
rápidas e precisas em cada etapa do diálogo musical.
A aceitação
em massa do samba tradicional – complemento do clássico – reforçada pela
presença de Léo Fortes e sua parceira em um dos maiores eventos de dança de
Santa Catarina, pode ser vista, neste cenário, como renovação do espírito do
samba: uma limpeza de possibilidades de leitura. E para alunos e professores
apaixonados pela dança, significa o amadurecimento indispensável que sempre
causa o contato com uma nova perspectiva, quando estamos preparados para
recebê-la. A iniciativa de convidá-los reflete a incrível mentalidade
aberta da ACADS e das pessoas que presidem a movimentação política da dança de
Florianópolis e Santa Catarina, mostrando que a dança de salão está em boas mãos
no nosso Estado.
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