Quatro
dias de dança, e uma gratificante dor nas costas de sequela. O Baila Floripa não recompensa o ladrão
com mais do que ele pode carregar. Quem volta com o corpo dolorido presume ter
algo em comum com alguns dos virtuosos que dançaram e se apresentaram, e que
puderam carregar mais do que calos e dores no seu furto ao espírito da festa. O
congresso, organizado pela administração da acads, presidida pela competente e
incansável Aline Menezes, é um canal de muitas energias. As diferenças de
estilo se desafiam, a variedade de experiências se confronta, e os casais mais
ousados se enfrentam no final, em uma expressão de competitividade fundamental
tanto para o florescimento da arte quanto da ciência. Mas a um desses comércios
de influência eu gostaria de dar ênfase, uma vez que é aquele em que tive o
prazer de participar: a ebulição inspiradora parida da interação entre os
alunos e os professores, e que tem o seu auge no final de cada aula, quando as
duas classes se oferecem mutuamente em uma generosa troca. Os gritos, assobios,
suspiros e suspenses dos pupilos são a semente de uma energia sugada e
reciclada pelos mestres, que devolvem respostas improvisadas pelo próprio
corpo, em um diálogo que envolve a música, o dançarino e os admiradores. Como
um comediante progride com o progresso dos risos da audiência, a dança se
alimenta dos uivos de prazer dos seus fãs. Naqueles últimos cinco minutos sincroniza-se
o tempo em uma expressão de arte real. O expectador e o artista negociam suas
necessidades na linha fina do instante. A narrativa da dança se torna um jogo
de reflexos entre o autor e o leitor, cada gesto nascendo livre e ao mesmo
tempo necessário, como se sua espontaneidade fluida viesse amadurecendo desde
uma raiz longínqua plantada em um passado remoto, para emergir no agora com a
força de uma ideia fresca. O Baila Floripa é feito pelos ícones. Além dos
talentos locais que cada vez mais confirmam a suspeita de um futuro brilhante,
há os de fora que através do youtube foram previamente canonizados, e a sua presença
infesta o ambiente com um ar de veneração. Mesmo que fora do universo da dança não
sejam conhecidos e admirados com a mesma intensidade, é fazer justiça dizer que
as suas performances agregam valor à personalidade cultural do Brasil. Assim
como jogadores de futebol, Garrincha, Pelé e Romário, alguns dos prodígios dançantes desse país
deveriam já estar incluídos em letras de música e ser cantados nas rodas de
samba, como figuras da mitologia popular, capazes de misturar as sílabas do
espírito brasileiro e escrever mensagens que apelam ao nosso coração, nos
despertando um senso de identidade.
Muito linda a foto! Quem são?!
ResponderExcluirEh o Ricardo Tetzner - nosso garoto prodigio. Peguei a foto no google. Nao consegui identificar a dama. :)
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