Dona
Eusébia tentou de tudo, até trancar a filha no quarto. E trancá-la no quarto o
fez. Mas como fosse plástica, a própria parede confabulava contra ela,
se não a própria lei física que se subvertia para colaborar com os subterfúgios misteriosos do diálogo amoroso. Nem a geografia deixou de ser recrutada. Como ele entrava e ela saía,
sem essa explicação? A fiscal materna conferia o quarto de manhã, e não havia
um vestígio de truque. A mágica era legítima! Tarde
demais. Não deixa de ser
curioso como os cuidados diligentes do bem são vagos e inseguros comparados à
vigília incansável das intenções lascívias, que perdem o sono e ignoram os
apelos do próprio corpo, mas não adormecem antes de terem seus planos
satisfeitos. Eventualmente os bons conselhos vencem, mas jamais por excesso de
força ou superioridade de número. Basta às inteligências concupiscentes um
pequeno ateio de fogo, e ela se alastra com uma velocidade que não deixa
pensamento algum escapar ao seu alcance. Os seduz e convence a pesar a seu
favor na disputa sempre violenta que trava com as inteligências serenas, que
quando chegam já é tarde; apenas arrebanham os últimos e menos capazes
fragmentos de pensar, a sobra. A tentação de consumar os atos proibidos é
industriosa; a força de vontade para evitá-lo já sempre sucumbiu à preguiça.
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