Passei os olhos pelos jornais dos
últimos dias e me deparei com o mais novo assalto contra a própria reputação cometido por Ronaldinho Gaúcho, sempre mais leal à sua inclinação boêmia que ao
desejo de satisfazer as chefias, ou quem quer que seja. Lembrei-me então de
Romário em sua fase memorável. Dizem que o carioca barganhava com o técnico sua
saída do campo para o carnaval, e quando interrogado sobre sua volta ao Brasil,
durante sua melhor fase no exterior, apenas sugeriu ao repórter: “você não sabe
o que é morar no Rio de Janeiro”.
Vi em seguida outra enxurrada de
reações dos cronistas indignados erigindo promessas de inferno contra o jogador.
Houve quem o chamasse de vagabundo, outros de farsa. O que esses muito
respeitáveis velhos encalhados em sua ilha de decência têm de superar é o fato
de que nascerão sempre versáteis moleques cheios de molejo e vida, talentosos o
bastante até para desperdiçar seu talento. Têm de aprender que o seu
comportamento escandaloso não é uma questão de domínio público, ou uma
exploração da confiança civil, e muito menos a carga de uma dívida que eles
fazem com os invejosos. Pode parecer uma injustiça dos céus, mas não há no
mundo cláusula alguma reputando aos jovens levianos a responsabilidade de
indenizar a amargura de anciões reprimidos que sofrem entediados com a própria
memória. A propósito, é de desconfiar do moralismo de quem cobra essa dívida
inexistente. Parecem aqueles infelizes que xingam de vadia a mulher que não
concedeu em dar-lhes a felicidade.
Por outro lado, o moleque e a menina
muito encantados por sua própria liberdade não deveriam tampouco tentar
desmentir a existência da palavra experiente, a voz da idade, que ganhou a
confiança de falar mais alto e cravar na terra o valor de sua lei e censura.
Por mais modelos em que a sociedade possa se camuflar, permanece fixa a
condição de fidelidade exigida de seus membros. Os vários modos de
credibilidade que estruturam a coexistência social são mapeados justamente pelo
sistema de débitos instaurados dos antigos para os novos, e não se deve jamais
subestimar o poder de sua cobrança. É essa verdade simples, porém capital, que
falta à inteligência de uma camada de descontentes sociais. Ou aquela que eles
preferem não ver.
Eu, que me considero um boêmio até
onde posso, acredito que a boemia é a vida como ela deve ser vivida, porém não
dissimulo ignorar que a sua energia prazerosa nasce de um abuso do crédito
social, não da conformidade com a regra do dia. O boêmio vive, justamente, ao
avesso da regularidade diária. E se não
fosse assim, ainda seria bom?
Hoje mais do que nunca é preciso distinguir o boêmio do baladeiro já escrevi varias crônicas sobre isso. o boêemio é anarquista politizado e rima amor e mulher entre os copos que degusta, balbucia versos ,que mesmo na indiferença iconoclasta do marmore ao repousar o copo ,vê a beleza femenina nas gotas que salpicaram da sobra da garrafa ,que muitos dizem que ele dedicou ao santo, que santo ,que nada , santo é a mulher amada..não sou de baladas ,mas penso que Baladeiro é qualquer coisa,,, menos isso...
ResponderExcluirConsegues me encantar. És um monstro na sutileza, nos detalhes, na poesia dissertativa.
ResponderExcluire isso aí é o politicamente correto tomando conta do brasil analfabeto. todo o cuidado é pouco, jovem doutorando. :D
aee, valeu o comentário rapaziada. Nem me fala gabriel...vou te falar que invejo vc , que ainda tem coragem de dizer umas verdades aí que eu prefiro evitar de dizer, com prejuizo pra minha consciência!
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