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terça-feira, 8 de maio de 2012

A humilhação pública do autor na era das novas políticas editoriais


Francamente: não se pode deixar todo mundo feliz. Os blogs hoje são um símbolo de como o conceito de “publicação” é adaptável e relativo. Junto com a onda do progresso na forma de divulgar literatura, entendida da forma mais ampla o possível, as antigas juízas solenes do que será e o que não será lido também adotaram modelos reformados. Há agora um grupo de editoras que abriga aquelas de pequena tiragem. Basicamente, são as editoras que cobram ao autor o custo de sua publicação. Se isto começou ou não como um modelo elegante de golpe já não é possível avaliar, mas hoje a difusão da prática já lhes deu o direito de se arvorarem com a mais descarada das faces inocentes. Estão quase sufocadas com seu ar de legitimidade. Qualquer que seja a verdade, de todos os que aproveitarem alegremente dessa facilidade nova na história do mercado editorial, não se pode deixar de mencionar quem sobra: a própria dignidade do autor, que sofre essa sumária defasagem da confiança básica que, antes de tudo, deveria ser investida pelo patrocínio da editora.  Pois sem ela, sobra apenas o autor; e ninguém é mais suspeito que o próprio autor do livro na propaganda de sua obra: é suspeito porque é pressuposto, e o fato de fazer uma boa crítica de si mesmo não será jamais um evento surpreendente. Com mais frequência será tomado por arrogante, ou autocomplacente. Imaginem se os prefácios do próprio autor deixassem de usar o tom de respeito e humildade, e passassem a usar o tom predador e desrespeitoso dos pregadores e conversores religiosos! Impossível imaginar boa literatura escrita assim. Essa nova política, porém, considera as vantagens de submetê-lo à humilhação de ser o único a investir em si mesmo, traindo seus sonhos pela raiz. A editora tira habilmente o seu corpo fora, e sequer atesta a qualidade da obra com o seu próprio exemplo: afinal, se nem a editora patrocina a qualidade do texto, que exemplo oferece ao possível comprador?  É uma boa distorção do conceito editorial. O autor agora deve carregar um papelão de mendigo escrito: “me compre”. Não se pode deixar todo mundo feliz, como disse. E não há que culpar um lado ou outro, a verdade inapelável é que se depender do mercado a editora que aposta em literatura com a ajuda do próprio faro irá fatalisticamente ser condenada às chamas da falência. As opções são restritas: trabalhar apenas com planejamentos de mercado, que devem levar em conta sempre os tratados de psicologia infantil que reduzem o ser humano ao seu complexo de fetiches e vaidades pueris; ou pedir que o próprio autor arque com as despesas e o risco de seu fracasso, devassando preliminarmente o benefício da dúvida e colocando a nova literatura em uma perigosa encruzilhada: a de ser suspeita até que se prove o contrário. Mas: sem advogado de defesa!

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