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domingo, 2 de junho de 2013

O impacto de Léo Fortes e Robertinha no Baila Floripa 2013


Foi mais importante do que à primeira vista pareceu. A entrada de Léo Fortes e Robertinha no Baila Floripa 2013 marcou uma data de braços torcidos se convertendo em abraços acolhedores. As portas não podiam resistir por muito tempo ao charme juvenil do novo malandro, sem chapéu, mas de boné e tênis, sambando para baixo, dialogando com o chão, fiel a uma tendência subversiva que reforma toda a estrutura da gafieira a partir de uma leitura completamente nova do corpo. Com o jeito moleque, o molejo sincopado na atitude, a alma carioca volta a falar nessa versão corporal da dança. Esta, assim se torna menos europeia, mais tropical e regional, criativa e prolífera, cada vez menos centrada na base, e se expandindo com uma energia sacolejante e quebrada, misturando um aspecto tribal ao compasso trançado dos trapaceiros de profissão da Lapa antiga. Os traços africanos enfim se reúnem ao charme do malandro.
O casal não é pioneiro, nem órfão. É filho de um contexto cultural maduro. No Rio de Janeiro esse estilo de sambar já é o mais procurado pelos alunos interessados em samba de salão. Nas academias consagradas, os templos, há uma multidão de jovens bolsistas morenos de tênis, regatas e calças jeans, clones de Robertinha e Léo, partilhando a mesma composição genética de alegria e linguajar do gueto. Agora, com jeitinho, eles vão conquistando o país, precedidos pelos dois meninos, precursores, que vão abrindo passagem graças ao seu estilo mais adaptado ao ideal retórico de “limpeza” instituído por tradições respeitadas. São como pintores de vanguarda que precisam convencer os fundadores antes de revolucionarem a arte. Mas uma dança só é limpa na proporção em que é fiel à perspectiva que ela dá à leitura da música. O jovem casal, em cada gesto, mesmo o mais detalhado movimento, flui como um sopro de personalidade autêntico, expressão pura e limpa da cultura carioca que lhes deu berço, distribuindo respostas rápidas e precisas em cada etapa do diálogo musical.   

A aceitação em massa do samba tradicional – complemento do clássico – reforçada pela presença de Léo Fortes e sua parceira em um dos maiores eventos de dança de Santa Catarina, pode ser vista, neste cenário, como renovação do espírito do samba: uma limpeza de possibilidades de leitura. E para alunos e professores apaixonados pela dança, significa o amadurecimento indispensável que sempre causa o contato com uma nova perspectiva, quando estamos preparados para recebê-la. A iniciativa de convidá-los reflete a incrível mentalidade aberta da ACADS e das pessoas que presidem a movimentação política da dança de Florianópolis e Santa Catarina, mostrando que a dança de salão está em boas mãos no nosso Estado.

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