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sábado, 17 de maio de 2014

Nelson Sargento, Lagoa, 07/10/2012

Lua do dia 07 de outubro de 2012: Uma noite como outras na Lagoa? Exceto pela lenda do samba que pisou suas margens, aos passos miúdos da experiência, carreta humana de um armazém do tempo que vai ficando para sempre mumificado nos cadernos das crônicas da Mangueira; lá onde, em um desfile de mitos, andaram juntos poetas que valem a oferta de uma constelação, e que agora só podem mesmo ter se convertido em estrelas, habitando um céu que prorroga a chegada do “Nelson remanescente”, que sobrou para contar a história aos netos da cultura que ele ajudou a semear. O sargento desceu do carro na porta, baixinho, andou encurvado, sem pressa, cumprimentou e distribuiu autógrafo a quem pediu, e, desafiando quem achou que a madrugada ia vencê-lo, começou a cantar só uma e meia, com uma voz modificada, mas ainda atinada, fecunda, mensageira de gerações e profeta de influências do passado. Ritual de gestos musicais: deu a mão a todos os músicos do palco com a parcimônia de um cerimonioso pastor, cantou músicas suas e de seus próximos, Cartola, Cavaquinho, bancando viagens pela memória do samba, transportando os ouvidos mal alimentados do presente a um cofre de joias sonoras, tristes ou alegres, autênticas. Foi ele quem disse: ‘Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve’. Ora, mas emprestou a “Alvorada” desse sonho coletivo do Brasil, e todos nós adormecemos juntos. Domingo alvoreceu uma primavera de aplausos atrás do morro da praia mole, refletindo os ecos de uma época de gratidão.

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