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sábado, 30 de setembro de 2017

Ossos do Ofício (um mini-conto). Durante a manhã uma notícia, mistura de cômico, fantástico e horror, ganhava horizontes nos ares do bairro que abrigava o cemitério: acharam o corpo de um rapaz com mais ou menos vinte e cinco anos enfartado na ala das tumbas engavetadas, com a roupa enganchada em um osso protuberante que saía em projeção de uma das urnas de defuntos exumados. O osso desorbitado de sua caixa era obra de um dos cachorros frequentadores, que fazem companhia aos coveiros e provocam ingênuos sacrilégios nas caixas de concreto rachadas pelas más condições da instituição dos mortos, irrepreensivelmente tentados pelo banquete de esqueletos que jaz através daquelas pequenas ruínas. Diziam as línguas curiosas que o defunto mais recente tinha na face uma interjeição de susto pintada com um esmalte gramatical que nem a química mórbida dos cosméticos da morte removeu de sua expressão. Ai! - parecia uma redação escrita em seus olhos, dizendo “fui pego”. “Segundo o laudo médico, morreu de infarto do miocárdio. Provavelmente um desses profanos vândalos de santuários, que desta vez foi agarrado pelos ossos da profissão”.

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