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domingo, 13 de março de 2011


Isso eu digo em minha própria defesa: a falta de elegância não é um aleijamento do estilo. Elegância é apenas uma antiga exigência de simplicidade, emprestada dos matemáticos e subliminarmente enraizada em preconceitos metodológicos, doutrinas metafísicas e crenças espirituais que remontam a uma mitologia social. Quando não é incentivada por artigos de fé, a própria ciência não a desmente: pois seria impossível chegar à verdade sem essa simplificação das crenças e asserções em formas gramaticais elementares. Não se deve surpreender quem ver a mesma mitologia influenciando toda uma geração da moda, como a dos cortesãos, predominantemente elegantes no falar e no vestir, porque fazia parte do seu emprego bajular e paparicar a realeza. Quando se pretende aplicar as mesmas lambidas nos leitores, editores e professores, ou para seduzir mulheres antiquadas, portanto, é a mesma mitologia que é recomendada. Mas será realmente interessante a todo produtor de texto conformar-se a um modo tipicamente matemático de conectar as fases de uma argumentação, essa economia na avaliação do peso das premissas, essa neutralidade algorítmica na busca por soluções? Supondo que isso fosse possível; não, não seria interessante. Mas também isso depende de uma questão ideológica: a idéia de natureza, a idéia de realidade, a idéia de deus, todas essas idéias são solidárias a essa modéstia assertiva dos matemáticos, essa submissão à regra da elegância. Somente muito recentemente o mito político da autoria e da autoridade foi contestado, e ainda é cedo para contestar os seus brios aristocráticos e as suas roupas elegantes na linguagem, porque o povo que o sucedeu continuou preso aos mesmos ideais. Em alguns círculos, contudo, já se sentiu os tremores provenientes desse epicentro remoto. Há algum tempo a literatura já goza de uma liberdade estilística que põe em jogo a própria noção de nome, de assinatura e de autor, rindo à larga de seus escrúpulos ao apuro no vestir e no falar; e infringindo sem hesitação o seu dogmatismo gramatical e estilístico. A livre eloqüência já vem sendo semeada nestes círculos. Junto com ela podemos esperar uma riqueza nunca antes vista no sentir e no pensar...

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